Mutações KRAS e NRAS impactam no tratamento do câncer colorretal

Mutações genéticas nos genes KRAS e NRAS estão presentes em quase metade dos cânceres colorretais. Essas mutações estão ligadas a uma sobrevida reduzida e a agressividade do tumor, pois afetam a resposta a certos tratamentos.

A presença dessas mutações influencia a eficácia da terapia, especialmente aquelas direcionadas ao bloqueio do receptor EGFR. Pacientes que possuem mutações nos genes KRAS e NRAS não respondem bem a tratamentos com anticorpos monoclonais anti-EGFR, por exemplo.

Portanto, é crucial considerar a adoção do teste molecular para estes genes como um procedimento diagnóstico padrão para garantir uma abordagem mais precisa no tratamento.

Mutação genética nos genes KRAS/NRAS

As mutações nos genes KRAS, NRAS e BRAF desempenham um papel fundamental no câncer colorretal, ocorrendo em até 50% dos casos. Esses genes, especialmente o KRAS e o NRAS, pertencem à família de proteínas G do tipo RAS, que participam das vias de sinalização iniciadas por fatores de crescimento celular, como a proteína EGFR (receptor de crescimento epidérmico).

A proteína EGFR atua no crescimento e na sobrevivência celular. Sua ativação aciona uma série de processos celulares que resultam na multiplicação das células. Mutações no gene que codificam essa proteína (gene EGFR) podem causar a desregulação no ciclo celular, levando ao crescimento excessivo e desorganizado do tecido, processo característico do câncer.

As proteínas KRAS e NRAS estão envolvidas diretamente nas vias de sinalização ativadas pelo EGFR. Quando ativadas, essas proteínas passam por mudanças em sua estrutura que permitem o despertar de diversos outros sinais intracelulares. Juntas, essas proteínas promovem a sobrevivência celular, o crescimento, a formação de novos vasos sanguíneos e a diferenciação celular. Portanto, mutações nos genes KRAS e NRAS potencialmente podem desregular o ciclo celular e promover o desenvolvimento de um tumor.

Diagnóstico molecular para melhor orientação terapêutica

Dada a importância dessas mutações na escolha do tratamento, a análise do estado mutacional dos genes KRAS e NRAS tornou-se essencial no cuidado de pacientes com câncer colorretal.

Antes de iniciar o tratamento, a detecção prévia dessas mutações é vital para aumentar a probabilidade de sucesso terapêutico e a sobrevida do paciente. Uma pesquisa realizada no México revelou que somente 63% dos médicos oncologistas na América Latina utilizam testes genéticos para examinar o gene KRAS (os genes NRAS e BRAF não são regularmente incluídos no teste), após diagnosticar câncer colorretal metastático. Esse dado indica que muitos pacientes com a doença podem estar recebendo tratamentos ineficazes.

A genética no diagnóstico personalizado

Hoje em dia, não se deve iniciar o tratamento de um paciente com câncer sem antes investigar o perfil genético do tumor. Nos laboratórios de patologia, o método de diagnóstico considerado padrão-ouro envolve o uso de ácidos nucleicos (DNA e/ou RNA) obtidos de fragmentos de tecido saudável do tumor original ou de lesões metastáticas que foram previamente analisadas por médicos patologistas. Em resumo, a análise genética do tumor ocorre por meio de exames moleculares, permitindo a identificação de características específicas do câncer.

Essa caracterização genômica individualizada de cada tumor em cada paciente desempenha um papel central ao orientar as decisões de tratamento, sendo crucial para o sucesso das terapias alvo contra o câncer. Nos últimos anos, esse conceito se materializou no que é conhecido como medicina personalizada, medicina de precisão ou, sob a perspectiva da patologia, medicina genômica.

O câncer é uma doença em constante evolução, moldada pela acumulação de várias mutações, influências epigenéticas e variações estruturais. Essas alterações podem ter origem em predisposições genéticas, como nos casos de cânceres hereditários, que podem resultar em padrões variados de genomas tumorais individuais.

Com essa compreensão, a oncologia de precisão faz uso dos exames genômicos dos pacientes para entender os tipos de tumores, a fim de criar estratégias de diagnóstico, prognóstico e tratamento, adaptadas às particularidades de cada pessoa, com direcionamento às terapias específicas para cada caso. Isso capacita os médicos a tomarem melhores decisões na escolha das terapias mais eficazes.

É preciso entender que cada câncer possui características únicas que afetam diretamente a eficácia do tratamento. Nesse sentido, o estudo molecular do carcinoma é essencial para caracterizar o tumor de acordo com sua análise genômica, possibilitando a identificação de alvos terapêuticos mais eficazes em diferentes subtipos de tumores.

Análises genômicas para prevenção

A utilidade das análises genéticas não se limita aos tumores e células cancerígenas. Atualmente, é possível avaliar com relativa segurança e precisão se alguém possui uma predisposição maior ou menor para desenvolver certos tipos de câncer.

Isso é viável graças a tecnologias como o sequenciamento de nova geração (NGS), que analisa o DNA humano em busca de mutações preditivas de câncer. Esses exames, conhecidos como painéis genéticos, permitem a análise do código genético do paciente para detectar variantes genéticas hereditárias que possam indicar uma predisposição ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer.

Vale destacar que praticamente todos os indivíduos carregam alguma mutação genética e, na maioria dos casos, isso não resulta no desenvolvimento de doenças. Portanto, a presença de uma mutação não garante o desenvolvimento de câncer no futuro. Esses testes são essenciais para possibilitar um acompanhamento mais próximo, caso seja identificado um gene suspeito, permitindo intervenções preventivas visando evitar o surgimento da doença.

O Célula Laboratório Médico assume o compromisso de trazer informações relevantes, atualizadas e de fontes confiáveis para que você se mantenha sempre bem informado e mantenha a sua saúde em dia.

Somos responsáveis pela prevenção e o diagnóstico de doenças, a partir de exames anátomos patológicos e citopatológicos. Pautamos nossos serviços sempre pela qualidade, confiabilidade e pelo atendimento personalizado e humanizado, levando para pacientes e médicos parceiros, diagnósticos precisos e especializados.

Referências

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Kuipers, E. J., Grady, W. M., Lieberman, D., Seufferlein, T., Sung, J. J., Boelens, P. G., van de Velde, C. J., & Watanabe, T. (2015). Colorectal cancer. Nature reviews. Disease primers.

Mármol, I., Sánchez-de-Diego, C., Pradilla Dieste, A., Cerrada, E., & Rodriguez Yoldi, M. J. (2017). Colorectal Carcinoma: A General Overview and Future Perspectives in Colorectal Cancer. International journal of molecular sciences.

Sanchez-Ibarra HE, Jiang X, Gallegos-Gonzalez EY, Cavazos-González AC, Chen Y, Morcos F, Barrera-Saldaña HA. KRAS, NRAS, and BRAF mutation prevalence, clinicopathological association, and their application in a predictive model in Mexican patients with metastatic colorectal cancer: A retrospective cohort study. PLoS One. 2020 Jul 6;15(7):e0235490. doi: 10.1371/journal.pone.0235490. PMID: 32628708; PMCID: PMC7337295.

Responsável Técnico Médico

Dr. Marcos Michel Gromowski – Médico Patologista

CRM/MT 4934 RQE 13657

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