Importância das margens cirúrgicas na patologia oncológica

Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022 havia quase 20 milhões de pessoas com câncer no mundo, sendo o mais prevalente o câncer de pulmão. No Brasil, conforme a estimativa de 2023 do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a doença atinge mais de 700 mil brasileiros por ano, sendo os cânceres de mama e próstata os de maior incidência.

Quando falamos sobre o tratamento do câncer, a precisão cirúrgica pode determinar o prognóstico do paciente. Um aspecto crítico nesse processo é a análise das margens cirúrgicas, um fator determinante para o sucesso da cirurgia oncológica e o acompanhamento da saúde do paciente.

Neste artigo, exploraremos o que são margens cirúrgicas, suas classificações, métodos de avaliação, suas implicações clínicas e o papel do médico patologista.

O que são margens cirúrgicas?

As margens cirúrgicas referem-se ao tecido em volta de uma lesão removida durante um procedimento cirúrgico. A principal função dessas margens é assegurar que não restem células cancerosas no local da cirurgia, o que poderia levar a uma recidiva da doença. Para isso, os cirurgiões removem o tumor junto com uma pequena quantidade de tecido saudável ao redor, criando uma “margem” de segurança.

A análise das margens cirúrgicas na avaliação patológica pós-operatória determina se a cirurgia teve sucesso na remoção do tumor e se há evidências de doença residual. Esse processo impacta diretamente no prognóstico do paciente e nas decisões terapêuticas subsequentes, como a necessidade de tratamentos adicionais, como quimioterapia ou radioterapia.

Classificação das margens cirúrgicas

A principal razão para a análise das margens cirúrgicas é garantir que todo o tumor foi removido. Existem três tipos diferentes de margens cirúrgicas, que podem ser classificadas como:

Margens negativas (ou livres)

Margens negativas, ou livres, indicam não haver células tumorais nas bordas do tecido removido, sugerindo uma ressecção completa. Isso reduz significativamente o risco de a doença reaparecer no mesmo local.

Margens positivas

Quando as margens são positivas, ou seja, quando há células cancerosas presentes nas bordas do tecido removido, o risco de recidiva local aumenta. Nesses casos, o patologista informa o cirurgião, que pode decidir realizar uma cirurgia adicional para remover o tecido restante. Alternativamente, o paciente pode ser encaminhado para tratamentos adjuvantes, como radioterapia ou quimioterapia, para eliminar quaisquer células cancerosas remanescentes.

Margens comprometidas

Quando as células cancerosas estão muito próximas da borda do tecido removido, mas não exatamente na margem, são chamadas de margens comprometidas. Esta situação pode requerer uma avaliação adicional para decidir a melhor ação.

O estado das margens cirúrgicas pode influenciar o prognóstico do paciente. Margens negativas estão associadas a melhores taxas de sobrevivência e menores taxas de recidiva. Por outro lado, margens positivas podem indicar a necessidade de um monitoramento mais rigoroso e tratamentos adicionais.

Métodos de avaliação das margens cirúrgicas

O processo de avaliação das margens cirúrgicas pode ser realizado de diferentes maneiras. Nele, o médico patologista utiliza de seus conhecimentos para interpretar as amostras de tecido removido durante a cirurgia, determinando se há células cancerosas nas bordas e a extensão da doença. Essa análise detalhada ajuda a informar as decisões cirúrgicas e terapêuticas subsequentes, garantindo que o tratamento seja o mais eficaz possível.

A colaboração entre o patologista e o cirurgião é importante para assegurar que todas as células tumorais sejam removidas, minimizando os riscos para o paciente. A avaliação pode ser realizada das seguintes maneiras:

Análise histopatológica

Após a remoção do tumor, a amostra de tecido é enviada ao laboratório de patologia. O tecido é processado, incluído em parafina, cortado em seções finas e corado para exame microscópico. O patologista examina as seções de tecido sob o microscópio para verificar a presença de células cancerosas nas bordas. Além disso, técnicas adicionais, como a imuno-histoquímica, podem ser utilizadas para detectar células tumorais com maior precisão.

Congelamento intraoperatório

Em alguns casos, as margens podem ser avaliadas durante a cirurgia através do congelamento intraoperatório. Esse método permite que o cirurgião obtenha resultados rápidos sobre o estado das margens, possibilitando a ressecção adicional, se necessário, ainda durante o procedimento cirúrgico.

Considerações clínicas utilizando as margens cirúrgicas

A interpretação das margens cirúrgicas deve considerar vários fatores, incluindo o tipo histológico do tumor, a localização e o comportamento biológico do câncer. Tumores com alta taxa de recidiva, como os sarcomas ou certos tipos de carcinoma, exigem margens mais amplas e rigorosas.

As diretrizes para margens cirúrgicas variam conforme o tipo de tumor e a localização anatômica. Por exemplo, para câncer de mama, recomenda-se uma margem mínima de 2 mm em muitos casos, enquanto para melanoma, margens maiores são frequentemente necessárias.

A equipe médica segue diretrizes específicas de cada especialidade e considera as características individuais do paciente para a tomada de decisão. Em alguns casos, as margens podem auxiliar nas seguintes ocasiões:

Decisões cirúrgicas

Se as margens são positivas, o cirurgião pode optar por realizar uma nova cirurgia para garantir a remoção completa do tumor. Essa decisão é baseada na localização do tumor, no tipo de câncer e na saúde geral do paciente.

Terapias adjuvantes

Margens positivas podem levar à recomendação de tratamentos adjuvantes. A radioterapia pode ser utilizada para destruir células cancerosas residuais na área cirúrgica, enquanto a quimioterapia pode ser usada para tratar células cancerosas que possam ter se espalhado para outras partes do corpo.

Monitoramento e seguimento

Pacientes com margens positivas requerem monitoramento rigoroso e exames de seguimento regulares para detectar qualquer sinal de recidiva precoce. Isso inclui exames de imagem, exames laboratoriais e consultas regulares com o oncologista.

A análise das margens cirúrgicas é uma etapa crítica na patologia oncológica, influenciando diretamente o sucesso do tratamento cirúrgico e o planejamento das terapias subsequentes. Garantir margens negativas é fundamental para reduzir o risco de recidiva do câncer e melhorar o prognóstico do paciente.

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Referências

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Responsável Técnico Médico

Dr. Marcos Michel Gromowski – Médico Patologista

CRM/MT 4934 RQE 13657

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