Doenças Inflamatórias Intestinais: sintomas, diagnóstico e prevenção

Doença Inflamatória Intestinal é um termo genérico que engloba condições crônicas que impactam o trato gastrointestinal. Nos últimos anos, avanços na ciência reforçam o papel do intestino não apenas em funções digestivas, mas também na regulação de atividades complexas do sistema imunológico e do sistema nervoso central. Dessa maneira, distúrbios que comprometem o órgão podem resultar em efeitos negativos para a saúde geral.

Conforme dados da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), mais de 5 milhões de indivíduos ao redor do mundo são afetados por doenças inflamatórias intestinais. Embora essas condições não possuam cura, o diagnóstico precoce auxilia em um tratamento eficaz que proporcione uma melhora na qualidade de vida dos pacientes.

No Brasil, há um crescimento no número de casos nos últimos anos, com a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa sendo as formas mais comuns. O índice de prevalência dessas doenças aumentou de 30 para 100 a cada 100 mil habitantes, correspondendo a uma taxa média anual de aumento de 14,87%.

Além dos danos à funcionalidade intestinal, a doença inflamatória intestinal pode elevar o risco de desenvolvimento de câncer colorretal e outras sérias complicações de saúde. Este artigo visa esclarecer as principais dúvidas relacionadas aos sintomas, causas, diagnósticos e opções de tratamento.

O que é a doença inflamatória intestinal?

A doença inflamatória intestinal é um conjunto de condições inflamatórias que afetam principalmente a mucosa do trato gastrointestinal. A principal característica dessa doença é a inflamação crônica do tecido intestinal, o que pode provocar uma variedade de sintomas nos pacientes. As principais formas de doença inflamatória intestinal são a doença de Crohn e a colite ulcerativa.

Doença de crohn

Esta condição é identificada pela inflamação que pode afetar todas as camadas da parede gastrointestinal, manifestando-se por meio de lesões espalhadas ao longo do sistema digestivo. Um aspecto característico da doença de Crohn é a alternância entre segmentos de intestino saudável e segmentos inflamados.

Embora possa impactar qualquer parte do sistema digestivo, é mais comum que a doença de Crohn afete o íleo, a última parte do intestino delgado antes do cólon (intestino grosso).

Colite ulcerativa

Diferentemente da doença de Crohn, a colite ulcerativa está restrita ao intestino grosso e ao reto, excluindo o intestino delgado e partes superiores do trato gastrointestinal. O reto é frequentemente a área mais comprometida, e a ausência de inflamação ou lesões nessa parte é geralmente um forte indicativo de que a colite ulcerativa pode ser descartada.

Na colite ulcerativa, a inflamação acontece nas camadas superficiais do tecido intestinal, resultando em edema e na formação contínua de múltiplas úlceras, especialmente na região terminal do cólon.

Quais são os sintomas da doença inflamatória intestinal?

Os sintomas da doença inflamatória intestinal podem variar bastante em termos de gravidade e frequência, oscilando entre episódios agudos e períodos de remissão. Geralmente, os primeiros indícios da doença surgem após o contato com substâncias ou microrganismos que desencadeiam reações inflamatórias ou irritativas no intestino, tais como certos medicamentos ou infecções gastrointestinais.

Os sintomas mais comuns incluem:

  • Diarreia recorrente;
  • Dor abdominal;
  • Sangramento retal;
  • Urgência para evacuar ou dificuldade em controlar a evacuação;
  • Presença de sangue nas fezes;
  • Perda de peso involuntária;
  • Fadiga.

É importante notar que esses sinais e sintomas, por si só, não são suficientes para estabelecer um diagnóstico definitivo, sendo essencial a avaliação de um médico especializado para uma análise mais precisa da condição.

Na ausência de um tratamento adequado, a doença inflamatória intestinal pode progredir e levar a complicações graves, como câncer colorretal, desidratação intensa devido a diarreias frequentes, obstruções no trato intestinal, perfurações gastrointestinais e síndromes de má-absorção. No entanto, vale lembrar que devido à similaridade de alguns sintomas, nem todo processo inflamatório no intestino resulta em um câncer.

Além do intestino, a doença inflamatória intestinal também pode manifestar sintomas em outros órgãos e sistemas do corpo, incluindo olhos, pele, articulações e vasos sanguíneos.

Quais são as causas da doença inflamatória intestinal?

A doença inflamatória intestinal é geralmente provocada por uma reação autoimune, caracterizada pela ação do sistema imunológico contra as próprias células do corpo. Os fatores específicos que desencadeiam essa resposta imune ainda não são completamente entendidos.

Aspectos genéticos e ambientais, incluindo infecções por vírus e bactérias no trato gastrointestinal, são conhecidos por provocar uma reação imunológica intensa. Há estudos que sugerem um componente hereditário na doença, com cerca de 20% dos pacientes tendo familiares de primeiro grau também afetados pela mesma condição.

Anteriormente, pensava-se que a dieta, o estresse e o uso de certos medicamentos fossem causadores diretos da doença. No entanto, pesquisas mais recentes indicam que esses fatores podem evidenciar os sintomas, mas não são causadores primários.

Como é realizado o diagnóstico?

O processo de diagnóstico envolve uma combinação de avaliação clínica, exames laboratoriais e técnicas de imagem. Primeiramente, o médico realiza uma análise dos sintomas relatados pelo paciente, além de revisar os históricos médico e familiar. Para confirmar o diagnóstico, são necessários exames complementares, que incluem análises de fezes, testes para detectar sangue oculto nas fezes, dosagem da calprotectina fecal, além de procedimentos como endoscopia ou colonoscopia, com eventuais biópsias.

A calprotectina é uma proteína encontrada nas fezes, cujos níveis elevados indicam a presença de inflamação na mucosa intestinal. A avaliação dos níveis de calprotectina fecal é considerada um método eficaz para detectar e quantificar a inflamação intestinal, servindo como um biomarcador para o diagnóstico inicial e monitoramento da doença ao longo do tratamento.

O diagnóstico definitivo é geralmente confirmado mediante exames visuais das lesões internas, sendo a endoscopia indicada para casos suspeitos de doença de Crohn, e a colonoscopia para colite ulcerativa. Dependendo da avaliação do médico, podem ser coletadas amostras de tecido durante esses procedimentos para uma análise histopatológica detalhada, para que o médico patologista possa descartar possíveis casos de câncer no aparelho digestivo.

Qual é o tratamento para a doença inflamatória intestinal?

A doença inflamatória intestinal, sendo de natureza autoimune, não tem cura conhecida, mas as terapias disponíveis hoje podem proporcionar uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes, especialmente quando o diagnóstico é feito de maneira precoce.

O principal objetivo do tratamento é alcançar a remissão histológica, isto é, promover a cicatrização da mucosa intestinal, melhorando o prognóstico do paciente e reduzindo a necessidade de procedimentos cirúrgicos e o risco de outras complicações graves.

Para controlar a inflamação, são empregados medicamentos anti-inflamatórios e imunossupressores, que ajudam a reduzir a atividade imune que ataca o intestino. Dependendo dos sintomas apresentados, pode ser necessário o uso de analgésicos para aliviar dores e antibióticos para tratar complicações como fístulas ou abscessos anais, comuns em casos de colite ulcerativa. Porém, vale ressaltar que todo o processo medicamentoso deve ser orientado por um médico.

A cirurgia é considerada uma opção apenas quando o controle da inflamação não é possível por meio de medicamentos. Geralmente, o procedimento cirúrgico visa remover segmentos do intestino que foram severamente danificados pela inflamação ou corrigir obstruções, fístulas e abscessos.

É importante que o paciente discuta com seu médico alterações na dieta que minimizem os desconfortos intestinais e evite o agravamento dos sintomas. Embora não exista uma relação de causa e efeito direta, certos alimentos podem impactar o quadro clínico.

A pessoa que vive com a doença inflamatória intestinal deve estar ciente de que um controle eficaz é possível com o tratamento adequado. É recomendado manter um acompanhamento médico regular, incluindo consultas e exames periódicos para monitorar a progressão da doença e a eficácia do tratamento. Com o manejo apropriado, é possível manter uma boa qualidade de vida e prevenir complicações adicionais.

O Célula Laboratório Médico assume o compromisso de trazer informações relevantes, atualizadas e de fontes confiáveis para que você se mantenha sempre bem informado e com a sua saúde em dia.

Somos responsáveis pela prevenção e o diagnóstico de doenças, a partir de exames anátomos patológicos e citopatológicos. Pautamos nossos serviços pela qualidade, confiabilidade e pelo atendimento personalizado e humanizado, levando para pacientes e médicos parceiros diagnósticos precisos e especializados.

Referências

Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. 19/5 – Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/19-5-dia-mundial-da-doenca-inflamatoria-intestinal/. Acesso em: 29/04/2024.

Agência Brasil. Doenças inflamatórias intestinais crescem quase 15% ao ano. Disponível em:  https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-05/doencas-inflamatorias-intestinais-crescem-quase-15-ao-ano. Acesso em: 29/04/2024.

FIOCRUZ. Maio Roxo alerta para diagnóstico precoce das doenças inflamatórias intestinais. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/maio-roxo-alerta-para-diagnostico-precoce-das-doencas-inflamatorias-intestinais. Acesso em: 29/04/2024.

Responsável Técnico Médico

Dr. Marcos Michel Gromowski – Médico Patologista

CRM/MT 4934 RQE 13657

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *