O câncer de tireoide apresenta um crescimento no número de casos nos últimos anos, particularmente entre as mulheres. Conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa para cada ano do período de 2023 a 2025 no Brasil é de 16.660 novos casos, resultando em um risco estimado de 7,68 por 100 mil habitantes. Destes, 2.500 casos são esperados em homens e 14.160 em mulheres, correspondendo a um risco estimado de 2,33 casos novos a cada 100 mil homens e 12,79 a cada 100 mil mulheres. Desconsiderando os tumores de pele não melanoma, o câncer de tireoide é o 7º tipo de câncer mais comum no Brasil.
A glândula tireoide, localizada na base do pescoço, é responsável pela produção de hormônios que regulam o metabolismo, e qualquer alteração em seu funcionamento pode trazer sérias consequências para a saúde. Este texto se propõe a explicar os diferentes tipos de câncer de tireoide, com foco no mais comum, o câncer de tireoide papilífero, e destacar o papel crucial dos patologistas no diagnóstico preciso desta doença.
O que é a tireoide e quais os sinais de alerta?
A tireoide é uma glândula localizada na parte anterior e inferior do pescoço, com formato que lembra uma borboleta. Ela é constituída por dois lobos, direito e esquerdo. As alterações na tireoide podem ser de dois tipos: funcionais e anatômicas.
As alterações funcionais envolvem a produção de hormônios tireoidianos, que pode resultar em hipertireoidismo (produção excessiva de hormônios) ou hipotireoidismo (produção insuficiente de hormônios). As alterações anatômicas geralmente se manifestam na forma de nódulos.
Os nódulos tireoidianos são bastante comuns, estando presentes em cerca de 70 a 80% das pessoas, muitas vezes sem que elas saibam. Apesar disso, a probabilidade de que um nódulo seja cancerígeno é relativamente baixa, em torno de 12%.
Nem todos os nódulos necessitam de tratamento ou remoção. Contudo, é essencial que pacientes com histórico de radioterapia na infância ou com histórico familiar de câncer de tireoide sejam avaliados por um especialista em cirurgia de cabeça e pescoço por terem um risco maior de malignidade.
Alguns sinais de alerta para a possível malignidade de nódulos tireoidianos, que exigem uma avaliação médica imediata, incluem:
- aumento dos gânglios linfáticos do pescoço;
- rouquidão;
- dificuldade respiratória;
- crescimento rápido dos nódulos;
- dificuldade para engolir alimentos;
- presença de uma massa visível no pescoço.
Quais os tipos de câncer de tireoide?
Existem vários tipos de câncer de tireoide, cada um com características e prognósticos distintos. Os principais tipos são:
Câncer de tireoide papilífero
O câncer de tireoide papilífero é o mais comum entre os tipos de câncer de tireoide, representando aproximadamente 80% dos casos. Este câncer geralmente apresenta um prognóstico positivo, com altas taxas de sobrevida a longo prazo. Ele se origina nas células foliculares da tireoide, sendo caracterizado pelo seu crescimento lento e pela presença de projeções em forma de dedo, conhecidas como projeções papilares.
Os fatores de risco para o câncer de tireoide papilífero incluem a exposição à radiação ionizante durante a infância, histórico familiar de câncer de tireoide e síndromes genéticas como a síndrome de Gardner e a síndrome de Cowden. Clinicamente, este tipo de câncer pode se manifestar por um nódulo na tireoide, alteração na voz (disfonia) e linfonodos cervicais aumentados.
Câncer de tireoide folicular
O câncer folicular é o segundo mais comum, correspondendo a cerca de 10% a 15% dos casos. Ele também cresce lentamente e tem um bom prognóstico, mas pode ser mais agressivo que o papilífero, especialmente quando invade vasos sanguíneos e se dissemina para ossos e pulmões.
Câncer de tireoide medular
Este tipo representa aproximadamente 3% dos casos e pode ser esporádico ou hereditário. O câncer medular de tireoide origina-se nas células C, que produzem calcitonina, um hormônio envolvido na regulação do cálcio. Ele tende a ser mais agressivo e pode se espalhar para outros órgãos antes de ser detectado.
Câncer de tireoide anaplásico
O câncer anaplásico é o mais raro e agressivo, representando menos de 2% dos casos. Ele cresce rapidamente e é difícil de tratar, muitas vezes levando a um prognóstico ruim. Este tipo de câncer costuma ser diagnosticado em estágios avançados, quando já compromete outras estruturas do pescoço.
Como é feito o diagnóstico do câncer de tireoide?
O diagnóstico preciso do câncer de tireoide depende de uma série de exames clínicos, laboratoriais e de imagem. No entanto, a confirmação definitiva e a classificação do tipo de câncer são realizadas por um patologista, que analisa amostras de tecido da tireoide.
Biópsia por Punção Aspirativa com Agulha Fina (PAAF)
A PAAF é o principal método para coletar amostras de nódulos tireoidianos. Durante o procedimento, uma agulha fina é inserida no nódulo para aspirar células, que são, então, analisadas microscopicamente pelo patologista. Este exame é fundamental para determinar se o nódulo é benigno ou maligno e, em caso de malignidade, identificar o tipo de câncer.
Análise histopatológica
Após a cirurgia para remover parte ou toda a tireoide (tireoidectomia), o tecido retirado é enviado para análise histopatológica. O patologista examina o tecido sob o microscópio para confirmar o diagnóstico inicial, avaliar a extensão do tumor e verificar se há invasão de estruturas adjacentes. Este exame fornece informações importantes para o planejamento do tratamento.
Imuno-histoquímica e marcadores moleculares
Em alguns casos, são necessários exames adicionais, como a imuno-histoquímica, que utiliza anticorpos específicos para identificar proteínas no tecido canceroso. Além disso, a análise de marcadores moleculares pode detectar mutações genéticas específicas, ajudando a determinar o tipo de câncer de tireoide e orientar a terapia mais adequada.
Importância do diagnóstico precoce e acompanhamento
O sucesso no tratamento do câncer de tireoide depende na maioria das vezes do diagnóstico precoce e do acompanhamento rigoroso. Exames de imagem periódicos, como ultrassonografia e tomografia computadorizada, são essenciais para monitorar a recorrência da doença. Além disso, exames de sangue para medir níveis de tiroglobulina (um marcador tumoral) e hormônio tireoidiano ajudam a avaliar a eficácia do tratamento e detectar possíveis recidivas.
O câncer de tireoide, embora muitas vezes com bom prognóstico, requer uma abordagem multidisciplinar para o diagnóstico e tratamento eficazes. O papel do patologista é central nesse processo, desde a análise inicial das amostras de tecido até a confirmação do tipo de câncer e a avaliação da extensão da doença.
Com o avanço das técnicas diagnósticas e terapêuticas, as perspectivas para os pacientes com câncer de tireoide continuam a melhorar, destacando a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. A conscientização sobre a doença e a importância de procurar atendimento médico ao notar qualquer alteração na glândula tireoide são fundamentais para garantir melhores resultados e qualidade de vida para os pacientes.
Quais os tratamentos disponíveis para o câncer de tireoide?
O tratamento do câncer de tireoide varia conforme o tipo e a extensão da doença, mas geralmente envolve uma combinação de cirurgia, terapia com iodo radioativo e, em alguns casos, terapia hormonal ou radioterapia externa.
Cirurgia
A cirurgia é o tratamento primário para a maioria dos casos de câncer de tireoide. A extensão da cirurgia depende do tamanho e da localização do tumor. Em muitos casos, a tireoidectomia total (remoção completa da glândula tireoide) é recomendada, enquanto em outros, uma tireoidectomia parcial (remoção de parte da glândula) pode ser suficiente.
Terapia com iodo radioativo
Após a cirurgia, pacientes com câncer de tireoide papilífero ou folicular podem ser submetidos à terapia com iodo radioativo. Esta terapia visa destruir qualquer tecido tireoidiano remanescente e células cancerosas que possam ter se espalhado. O iodo radioativo é ingerido na forma de cápsulas ou líquido, sendo absorvido preferencialmente pelas células tireoidianas.
Terapia hormonal
Para compensar a perda da função tireoidiana após a tireoidectomia, os pacientes precisam tomar hormônio tireoidiano sintético pelo resto da vida. Este tratamento também ajuda a suprimir a produção de hormônio estimulante da tireoide (TSH), que pode estimular o crescimento de células cancerosas remanescentes.
Radioterapia externa e terapia alvo
Em casos mais agressivos, como o câncer de tireoide anaplásico, a radioterapia externa pode ser utilizada. Além disso, terapias alvo, que bloqueiam vias específicas envolvidas no crescimento do câncer, estão sendo cada vez mais exploradas para tratar tipos avançados de câncer de tireoide.
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Referências
Instituto Nacional de Câncer (INCA). Câncer de tireoide. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/tireoide. Acesso em: 25/06/2024.
Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2023. Incidência de Câncer no Brasil. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2023.pdf. Acesso em: 25/06/2024.
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Câncer Papilífero da tireoide. Disponível em: https://www.tireoide.org.br/cancer-papilifero-da-tireoide/. Acesso em: 25/06/2024.
Responsável Técnico Médico
Dr. Marcos Michel Gromowski – Médico Patologista
CRM/MT 4934 RQE 13657